O 8 de
março não é celebração e ainda há muito sobre o que falar e fazer sobre a luta
das mulheres. Afinal, mulheres vêm se reunindo e refletindo sobre sua condição
social há décadas, mesmo assim, muitos (e muitas!) afirmam que a igualdade já
existe e que diferenças entre homens e mulheres são coisas do passado.
Um ano
atrás, uma mulher de 41 anos de idade e uma adolescente de 14 anos foram
vítimas de estupro em uma praça pública no centro de Cuiabá. Essa praça
continua fechada até hoje. A medida não previne o estupro, não trata a vítima,
e não pune o estuprador, apenas mantém o local de dois crimes isolado.
Isso
acontece porque a condição da mulher na sociedade ainda não é de igualdade com
os homens, mesmo a Constituição Federal, determinando que assim seja, na
prática, isso não acontece.
A
resposta trazida pelos índices de violência doméstica contra a mulher,
violência política, de desigualdade salarial, de diferenças nos cargos de
liderança, esses e tantos outros números dizem que a desigualdade ainda é real.
Dados
do Atlas da Violência apontam que de 2000 a 2019 (dados mais recentes), em Mato
Grosso, 1.843 mulheres foram vítimas de feminicídio.
Já uma
pesquisa do Instituto Patrícia Galvão, de 2022, aponta que 36% das mulheres já
foram vítimas de assédio no local de trabalho.
O
IBGE, por sua vez, constata que mulheres ganham 20% menos que homens exercendo
a mesma função.
Esse
pequeno recorte aponta que nós mulheres fomos para o espaço público, mas os
homens não vieram para o espaço privado. Mulheres vivem sobrecarregadas com a
total responsabilidade sobre os filhos (mesmo tendo um companheiro), gestão e
trabalho profissional, e gestão e trabalho em casa, enquanto que a maioria dos
homens não se incluem no trabalho doméstico que ocupa tempo e atenção, deixando-os
livres para a gestão de suas carreiras.
A
desigualdade mudou. A mulher estuda e trabalha, mas ainda é submetida a um
código moral e oportunidades diferente das aplicáveis aos homens. Convivemos
com a desigualdade, especialmente a chamada divisão sexual do trabalho, como se
essa divisão fosse natural.
Tudo
isso é fruto de uma construção social cujo resultado é termos a maioria dos
políticos homens, enquanto que a maioria das empregadas domésticas, babás,
telefonistas são mulheres. Ou a maioria das enfermeiras são mulheres, e a
maioria dos médicos são homens. Professoras são maioria no jardim de infância e
homens maioria de professores universitários.
Os
exemplos são vários e demonstram que ainda vivemos sob crenças e hábitos do
passado que precisamos refletir.
Reflexão
é fundamental para que não sejamos meras reprodutoras de um comportamento
ensinado. E possamos fazer nossas próprias escolhas, sejam elas quais forem.
Mas
especialmente para que os poderes constituídos tomem providências para corrigir
distorções que perpetuam a exploração e a submissão.
A real
modificação das relações só virá por meio de uma transformação cultural de
homens e mulheres e na forma como enxergamos nossos papéis sociais.
E
precisamos ficar vigilantes, pois enquanto timidamente avançamos em nossas
lutas e conquistas, na internet e outros organismos pouco responsáveis, vicejam
cursos de submissão, inferiorizando as funções da mulher e, portanto, porta
aberta para a violência e todo tipo de discriminação negativa.
Neste
8 de março, infelizmente o que se constata é que precisamos cuidar das vítimas
e ainda avançar muito para que realmente tenhamos igualdade, e para que não
tenhamos como soluções apenas praças fechadas.
Fonte:
Jornal Estadão Mato Grosso, por Glaucia Amaral.
Glaucia
Amaral é procuradora do Estado de Mato Grosso, é diretora na Associação
dos Procuradores do Estado de Mato Grosso (Apromat) e preside a Comissão da
Mulher Advogada da OAB/MT. Integra a Comissão Nacional da Mulher Advogada do
Conselho Federal da OAB.
✊🏻
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